Nota Oficial do Bloco Babydoll de Nylon que não sairá neste Carnaval

2017 foi um ano desafiador não só pela proporção que o Babydoll de Nylon atingiu, com 160 mil foliões na Praça do Cruzeiro, como também por situações fora do nosso histórico de folia que tivemos que lidar pela primeira vez. Situações que muitas pessoas consideram normais pela aglomeração de centenas de milhares de foliões, mas situações com as quais não nos sentimos confortáveis, como fatos isolados de intolerância, insegurança e desrespeito. Isolados, sim, mas que nos fizeram pensar se o formato do bloco era positivo para a cidade.

Tais acontecimentos confirmaram que, apesar do orgulho por termos alcançado um público recorde, não consideramos que o bloco tenha sido um verdadeiro sucesso. Além disso, reforçaram a necessidade de resgatar nossa essência, antes que algo mais grave pudesse acontecer. E por “nossa essência” entendemos que é preciso continuar sendo um bloco realmente seguro, tolerante, com respeito às diferenças, amigável à pessoas de todos os sexos, idades e orientações. Ou seja: uma manifestação cultural capaz de proporcionar a curtição de um carnaval de qualidade e tranquilo para todos.

Comprovando que, quanto mais pessoas, menos controle teríamos sobre isso tudo, a solução encontrada foi mudar o formato do bloco para 2018, de maneira que pudesse existir um limite de público. É muito importante destacar que a ideia do novo formato não é, de maneira alguma, elitizar ou segregar o Babydoll de Nylon, mas proporcionar um controle na quantidade de foliões dentro da área de festa ainda sendo um evento totalmente gratuito.

Naturalmente, o novo formato exigiria mais trabalho, mais abertura de diálogo com o governo e, claro, mais dinheiro investido proveniente de patrocínios privados. Sim, patrocínios privados, não verba pública. Acreditamos que o carnaval sustentável é criado a partir estratégias de patrocínio, e não exclusivamente com injeção de dinheiro público.

Diante de tal realidade, o BDN, juntamente com os demais blocos que lutam para fazer o carnaval de rua do DF acontecer, tentou criar um grupo de trabalho junto ao GDF (SECULT) logo após o término do carnaval 2017. Mas as solicitações de reuniões e conversas não foram acatadas. Infelizmente, o que aconteceu foi uma atuação unilateral do governo que se iniciou com o lançamento de um decreto na véspera do carnaval de 2017, seguido por um seminário para o qual nenhum bloco foi convidado a participar da construção e, por fim, o lançamento um edital pouco atrativo para as empresas privadas – não resultando em nenhum aporte efetivo.

Para completar, já em 2018, diante da não concretização de patrocinadores oficiais, o governo decidiu não autorizar, ou dificultar, o patrocínio direto das empresas privadas aos blocos, mesmo não tendo apresentado soluções efetivas para a garantia da festa.

A conversa entre GDF e os blocos iniciou-se no dia 9 de janeiro de 2018 (a um mês do carnaval e já em meio ao pré-carnaval), porém sem diretrizes claras das regras e definições sobre o posicionamento do governo. O resultado? Um tempo curtíssimo para viabilizar um evento desse porte.
Na mesma reunião do dia 9, o governo voltou atrás na decisão sobre o patrocínio direto das empresas privadas aos blocos. Ou seja, as negociações agora, a menos de 30 dias do início do carnaval, poderiam acontecer.

Diante dos fatos, decidimos reavaliar qual seria o nosso posicionamento. As possibilidades seriam: 1- tentar conseguir o aporte necessário para colocar o bloco na rua dentro do novo formato (mesmo sabendo que o investimento seria maior do que em todos os anos anteriores, e com pouquíssimo tempo para organizar); 2- insistir no formato de sempre ( correndo o risco de potencializar os problemas isolados de 2017) ou; 3- não colocar o Babydoll de Nylon na rua em 2018.

E, com todo o pesar do mundo, a decisão foi a de não sairmos em 2018.

O Babydoll de Nylon está na rua desde 2011. Sempre buscando a melhor estrutura e segurança para o seu público, sempre buscando ser um bloco de amigos. Aquele que todas as pessoas sempre se referiram por ser lindo, por ser feliz, por ter uma atmosfera amigável e tranquila para todas as pessoas. Aquele que em tanto tempo de folia, com tantas pessoas participando, nunca registrou uma ocorrência policial grave. É esse o bloco que nós, organizadores, e nosso público fiel queremos. Em 2018 não poderia ser diferente e entendemos que, na atual situação de fatos já citados, não conseguiríamos garantir isso. Pouco dinheiro, pouco tempo para investir no trabalho enorme de reestruturação de um bloco que reúne milhares de pessoas na rua. Não poderíamos correr o risco de não dar certo, não poderíamos correr o risco de não fazer um evento com todas as prerrogativas de segurança que hoje exigimos. Nosso foco nunca foi e nunca será o dinheiro, em 7 edições jamais faturamos com o bloco, todo o investimento sempre existiu para melhorar o evento para o público presente e, infelizmente, por diversos motivos, não tivemos o investimento ideal, dentro do prazo ideal para colocar o bloco na rua da maneira que acreditamos ser a correta.

Em 2019 estaremos de volta, com uma nova estrutura, com mais segurança, com o tempo necessário para negociar os patrocínios suficientes que permitam devolver todo esse nylon para vocês, vocês, vocês.

Esperamos que haja um reconhecimento do carnaval como uma festa que traz alegria à população, que valoriza as tradições populares, que traz recursos para a cidade e retorno para as marcas que apoiam o evento. Esperamos que essa noção óbvia de que um carnaval forte em Brasília é algo bom para TODOS seja acompanhada de bom senso por TODAS as partes. Esperamos que o diálogo com o governo seja horizontal e que, ao invés de novos empecilhos, sejam criadas novas soluções para que, não apenas o BDN, mas todas as manifestações culturais de Brasília possam colocar suas cores nas ruas da cidade. Afinal, a cidade é das pessoas e isso não pode ser esquecido de jeito nenhum. E esperamos, acima de tudo, que as pessoas que lutam e fazem o carnaval acontecer sejam respeitadas e inseridas na construção de uma das maiores manifestações populares do país.

Mais uma vez,
isso não é uma despedida,
mas um até logo.
Obrigado.

Daniel Obregon
David Murad
Paula Cunha
Raphael Pontual
Rosely Youssef
Toscanini Heitor