BLOCO CONFRONTO SOUND SYSTEM
Há mais ou menos 11 anos uma das questões mais recorrentes do nosso grupo de amigos era a percepção de como em Brasília tudo era segmentado, como as separações físicas dos espaços, os distanciamentos da proposta urbanística, encontravam ecos na estratificação social e nas relações entre as pessoas. Esse desconforto, mesmo sendo contraposto ao nosso total encantamento com a beleza do cerrado e a adesão ao ritmo da cidade, foi responsável pela intenção de produzir algo que pudesse melhorar exatamente o que nos incomodava.
O Confronto Soundsystem, ou as festas de rua do Confronto Soundsystem, nasceram dessa necessidade de promover a mistura de tipos de gente, propiciar encontros inesperados e fortúitos de pessoas que naturalmente não se esbarrariam, por acaso, em uma “esquina” de uma superquadra. A essa motivação original foi integrada a da retomada do espaço público a quem de direito ele deveria pertencer: o morador de Brasília.
O centro da cidade, com sua ocupação sazonal, vazio nos finais de semana, passou a ser o alvo dessa tentativa de intervenção e reocupação. As festas foram utilizadas como o elemento aglutinador que conduzia as pessoas a uma nova relação com o espaço público e uma reapropriação subversiva de uma área originalmente destinada a uso institucional.
A primeira festa realizada na rua pelo Confronto aconteceu em 2004, na Praça do Povo, encravada no miolo do Setor Comercial Sul, ela foi o tubo de ensaio para a comprovação que de uma forma espontânea era possível a rica convivência de uma fauna totalmente diversificada num mesmo lugar. A patricinha do plano, os travestis, os usuários de crack, o fã de rap da periferia, o porteiro de prédio, a caixa das lojas americanas, o playboy, e todos que estavam ali para escutar música e se divertir, juntos, de uma forma livre e gratuita, sem que a sua identidade social ou nível econômico fossem o passaporte que permitisse a sua participação.
Quase dez anos, e inúmeras festas depois, é evidente que de alguma forma o Confronto cumpriu a sua proposta inicial. O sem número de eventos que acontecem na rua, a variação de festas que tem o espaço público como lugar, parecem justificar o que foi pensado e colocado em prática lá atrás. E mesmo que ainda não seja o ideal, de alguma forma, o que foi criado deixou o seu legado e transformou a vida da cidade e a ocupação do centro de brasília em sementes que puderam ser de uma forma criativa e participativa definitivamente germinadas.