Carybé e a estética do carnaval de rua

“Quem vem pra beira do mar, aaaai, nunca mais quer voltar”. Há quem diga que foi canto de sereia, há quem diga que foi mandinga de baiana que trouxe de vez Carybé para a Bahia. O motivo pouco importa quando falamos do artista plástico mais baiano do Brasil, apesar de ter nascido na Argentina. Carybé é o nome artístico de Hector Julio Páride Bernabó, nascido na cidade de Lanús no dia 7 de fevereiro de 1911.  É um dos artistas mais reconhecidos no mundo quando o assunto é baianidades e afrobrasilidades. Carybé retratou a Bahia com capricho de bordadeira. A obra de Carybé vem inspirando artistas de diferentes vertentes em todo o mundo, inclusive nós da Rede Carnavalesca.org que temos o artista  como nossa principal referência estética.

Sua vinda para o Brasil foi em 1949, onde morou até o dia de sua última pincelada. Além de pintor Carybé também se destacava como gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista. A alcunha de Carybé surgiu aos 8 anos de idade, quando o artista fazia parte de um grupo de escoteiros do Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro. O menino Hector integrava uma tropa que mais parecia um cardume, pois seus membros assumiam nomes de peixes para se identificarem, foi aí que Hector começou a se chamar Carybé, um pequeno peixe da Amazônia brasileira.

 

Carybé também nos inspirou

As columbinas, pierrots, bate-bolas e arlequins que desfilaram pelas artes gráficas da Rede Carnavalesca.org desde seu lançamento são resultado de uma aprofundada pesquisa desenvolvida pelo artista brasiliense Tiago Botelho, que se expressa pela fusão de linguagens ao mesmo tempo contemporâneas e ancestrais carregadas de simbolismos herméticos, simetrias e paisagens oníricas. Além de Carybé, Tiago bebeu em outras fontes de inspiração, pesquisando as antigas iconografias carnavalescas na obra de Di Cavalcanti, Goya e também influências de artistas que ainda estão na ativa como os pernambucanos Militão dos Santos, David Soares e Edmar Fernandes.

Para Tiago Botelho (foto) “Carybé tem uma sensibilidade plástica única e consegue com poucos traços expressar cenas inteiras do cotidiano do povo baiano. Carybé tem os dois pés na rua na hora de pintar.”

Quem teve a oportunidade de navegar pelo universo literário de seu amigo Jorge Amado ou nas canções praieiras de Dorival Caymmi certamente encontrou a essência de Carybé, o mais baiano dos três amigos.

 

 

 

 

“O gosto da Bahia, como um vinho, vinha-se sazonando dentro de mim há 12 anos, desde o primeiro encontro em 1938, dia mágico em que, numa clara manhã de agosto, de um risco verde no horizonte a Bahia surgiu do mar. E a cidade veio vindo, veio vindo ao meu encontro, cada vez mais luminosa, cada vez mais definida, até que ela toda atracou no Itanagé. A cidade que já estava gravada em sonhos pelos livros de Jorge Amado e pelas canções de Caymmi. Aí, nesse ano, definitivamente, fui tarrafeado por sua luz, sua gente, seu mar, sua terra, suas coisas…” (CARYBÉ apud JESUS, 2008, p. 24).

Carybé fez mais de 5 mil trabalhos entre telas, ilustrações, esculturas, mas sua maior obra foi viver a própria arte, trazer para dentro de si os sabores e encantos da Bahia. Não falo dessa Bahia gentrificada do horário nobre e dos camarotes, mas de uma Bahia ancestral, de todos os santos e tão viva quanto a fé de seu povo.

Viva Carybé! Viva o Carnaval de rua! Viva o Povo Brasileiro!

 

Fonte: Carnavalesca.org