DONA IVONE LARA E OS NOSSOS SONHOS

Hoje, 8 de março de 2021, nossa Rede Carnavalesca soma forças ao dia internacional das mulheres. Vamos reverenciar as nossas companheiras Carnavalescas. No abre-alas, está nossa grande referência: Dona Ivone Lara. Pioneira como instrumentistas e compositora, é dela o primeiro samba enredo de autoria feminina, registrado no Brasil. Ela também foi a primeira mulher a fazer da ala de compositores de uma escola de samba, a Império Serrano.

Conhecida como Rainha do Samba e Grande Dama do Samba, ao 25 anos foi trabalhar com Saúde Mental, como enfermeira e assistente social. E durante mais de três décadas atuou pela humanização da psiquiatria, protagonizou a chamada “reforma psiquiátrica”. Trabalhou na mesma equipe de Nise da Silveira, na Colônia Juliano Moreira. Construiu uma metodologia humanizada para pacientes psiquiátricos, fortaleceu a luta antimanicomial.

Dona Ivone Lara nasceu em 13 de abril de 1922, na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Foi a primeira filha da união entre a costureira Emerentina Bento da Silva e João da Silva Lara. Paralelamente ao trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos tradicionais do Rio de Janeiro, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá – nos quais seu João também se apresentava. Formada em enfermagem e serviço social, foi uma profissional na área durante mais de trinta anos até se aposentar em 1977.

Ivone Lara também foi uma das primeiras mulheres formadas em assistência social no Brasil e uma das primeiras mulheres negras com curso superior no país. Seu trabalho nessa área foi tão importante que em 2016, a professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Graziela Scheffer, publicou o artigo acadêmico “Serviço Social e Dona Ivone Lara: o lado negro e laico da nossa história profissional”.

Compôs o samba Nasci para Sofrer, que se tornou o hino da escola de samba Prazer da Serrinha, fundada na década de 40 e extinta em 1952. Com a fundação da escola de samba Império Serrano em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. Também compôs o samba Não Me Perguntes, e a consagração veio em 1965, com Os Cinco Bailes da História do Rio, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da escola de samba. Em 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no grupo de acesso, com o enredo Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba. Em 2010 foi a homenageada na 21.ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em dezembro de 2014 foi a homenageada na 19.ª edição do Trem do Samba. Um mês antes, Dona Ivone havia participado do primeiro dia de gravações do Sambabook, em homenagem à sua carreira da gravadora Musickeria. Cantores como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Criolo, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto, Zélia Duncan e Reinaldo, O Príncipe do Pagode fizeram versões de canções de Dona Ivone, enquanto ela própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto, André. Em 2015, entrou para a lista das “Dez Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio”.