Preto Velho e os Carnavais dedicados à Libertação
13 de maio: data marca a resistência por equidade racial no Brasil. E reverencia as entidades da Cultura Popular conhecidas como “Pretos Velhos”.
No dia 13 de maio de 1988, foi assinada a Abolição da Escravidão no Brasil. Desde os anos 80 até os dias atuais, esta data é um dia de luta pela equidade racial e o antirracismo, um dia de consciência sobre a falsa democracia racial, no Brasil. “Esta é uma data de resistência do povo negro. Nós, do Asé Dudu sempre atuamos nesta data, para lembrar que precisamos construir uma sociedade antirracista. E que isto deve ocorrer todos os dias”, conta Betinha, dirigente do Bloco Asé Dudu.
A Escola de Samba carioca Paraíso do Tuiuti, dedicou seu desfile de 2018 a este tema. A letra é um manifesto de consciência, de extrema poesia e beleza:
MEU DEUS, MEU DEUS, ESTÁ EXTINTA A ESCRAVIDÃO? G.R.E.S Paraíso do Tuiuti (2018)
Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar, não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social
Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti, o quilombo da favela
É sentinela na libertação
Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor?
Pobre artigo de mercado Senhor,
eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz
Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente
Ê, Calunga, ê! Ê, Calunga!
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
Onde mora a Senhora Liberdade
Não tem ferro nem feitor
Amparo do Rosário ao negro Benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor
E assim, quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra a bondade cruel
Meu Deus! Meu Deus!……..
No 13 de maio é celebrada a entidade da Cultura Popular conhecida como “Preto Velho”. Muito cultuada nos terreiros de umbanda, nas casas de cultura de matriz africana, os “Pretos Velhos” são entidades que curam e trazem sabedoria por meio de histórias do tempo da escravidão, da superação pelo amor e liberdade, saberes através de cantos e rezas de povos de terreiros.
Vários Carnavais desfilaram em homenagem aos “Pretos Velhos”. Em 1964 a Mangueira levou pra Avenida o “Preto Velho” e é o primeiro registro de homenagem a entidade “Preto Velho”. A Rocinha em 2020, desfilou em homenagem a Maria Conga, preta velha curandeira dos terreiros de umbanda. A letra é lindíssima:
“Nasceu Maria
Nobreza em sua tribo africana
Tão livre quanto os ventos da savana
E a Lua cheia pra testemunhar
Que a dor, corta o mar
Chora, Maria
Que água do oceano sabe o gosto
Da lágrima que escorre em seu rosto
E os santos que aportam no cais da Bahia
Protegem quem já foi mercadoria
Leiloeiro canta o lote
N’outro canto o chicote
Segue a via da bravura
É Maria da negrura
Ergueu quilombo
Deu um tombo no aparato
Desses capitães do mato
Clamando libertação
Já foi vidraça, fez da luta uma couraça
E hoje o negro sem mordaça
Vem expor sua gratidão
Lumia o cruzeiro das almas
Que é linha de força maior
A gira já vai começar
Hoje a Rocinha é Magé no catimbó
Risca a pemba no terreiro, pede a bênção a minha vó
Maria Conga, é que vence demanda
Maria Conga, é que vence demanda
Saravá vó benzedeira preta velha de Aruanda”
Preparamos uma playlist com as homenagens das escolas de samba, as vovós e vovôs curandeiros. Adorei as almas, as almas adorei ! Salve os Pretos Velhos ! Você pode conferir aqui