NELSON SARGENTO: Eterno e imortal no Samba e Carnaval
Nesta quinta-feira, 27 de maio de 2021, faleceu Nelson Sargento aos 96 anos. Cantor, compositor, instrumentista, sambista, carnavalesco e artista plástico, Nelson, foi vítima da Covid-19, no Rio de Janeiro. Vascaíno e Comunista, ele deixou um legado esplendoroso na Cultura Brasileira e mundial. Nas Redes Sociais uma enorme mobilização ocorreu em sua memória e reverência ao seu legado único e imensurável.
O carnavalesco e jornalista Moacyr Oliveira Filho, o MOA, publicou: “Hoje o samba está triste pela passagem do Mestre Nelson Sargento, presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira. Tive o prazer de ter convivido um pouco com ele, na ARUC, no Projeto Gente do Samba, no Feitiço Mineiro, e de ter sido seu acompanhante na festa do Festival de Cinema de Brasília, que o homenageou. Me orgulho de ter na parede da minha casa um dos seus quadros, de 1997, que muito bem retrata as Matriarcas das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Esse quadro, agora, é a memória de Mestre Nelson Sargento em meu coração. Descanse em paz, Mestre!”
A jornalista e pesquisadora Maíra Brito, também homenageou Nelson Sargento em suas redes sociais:
“ ‘Samba, agoniza mas não morre…’ Alguns ainda não sabem, mas fechei minha graduação em jornalismo com uma monografia sobre samba. Mangueira e Portela. Meus amores do coração. Uma análise de discurso de seus sambas enredo…Eu dou início a esse trabalho com esse samba do mestre Nelson Sargento. Porque era isso que eu queria dizer ali: apesar de tudo, de todo capitalismo predatório, que embranqueceu e mudou tanto as escolas, o samba não ia morrer. Não tem como o samba morrer. Hoje sei: Samba é Orixá. De poder transformador. E por isso sou grata por ter o Samba na minha vida e ter tido a chance de entrevistar, olho no olho, esse homem que tanto fez pelo Samba, pela Mangueira, pela gente. Luiz Antônio Simas sempre diz que “o contrário da vida não é a morte, mas o desencanto”. Neste caso, mestre Nelson Sargento segue vivo, ensinando pra gente os fundamentos da vida, seja em uma letra de música ou em uma pintura. Que Olorun lhe receba em festa. Tantinho, Cartola, Carlos Cachaça e Nelson Cavaquinho lhe esperam.'”
Já o jornalista Roberto Seabra, postou:
“Na última vez que estive na Flip, conheci o Nelson Sargento, levado à Festa Literária de Paraty pelo escritor Lira Neto, autor de Uma história do samba. Foi uma manhã inesquecível. Ao final, comprei e recebi das mãos do sambista uma camisa feita a partir de desenho feito pelo próprio. Viva Nelson Sargento! Viva o samba!”
A Estação Primeira de Mangueira, se manifestou nas Redes Sociais e declarou luto oficial pela passagem de seu presidente de honra:
“Com grande pesar informamos que nosso presidente de honra, Nelson Sargento, nos deixou essa manhã.Sua partida deixará saudades em todos os amantes do samba e da cultura brasileira. A semente plantada por ele rendeu frutos que estarão eternizados junto à certeza de que “O samba agoniza, mas não morre” jamais.Vai amigo Nelson, com seu jeito fino e elegante, se juntar a Cartola, Nelson, Jamelão e outros bambas, fazer uma roda de samba e olhar por nós.
A Estação Primeira de Mangueira agradece por tudo. Nossos sentimentos a todos os amigos e familiares.Em virtude do falecimento do Presidente de Honra da Estação Primeira de Mangueira, Nelson Sargento, está adiado por sete dias o início do 2º Concurso de Samba de Terreiro da Ala de Compositores.”
O pesquisador Caio Csermak, fez um lindo registro sobre o grande Nelson Sargento:
“Um dos acontecimentos mais impressionantes que presenciei na Bahia – e foram muitos – aconteceu na Casa do Samba de Santo Amaro da Purificação. Era um meio de semana de tarde em 2017, Santo Amaro naquele marasmo barulhento de sempre e na Casa do Samba estava rolando um seminário sobre samba de roda com a presença de não mais que 15 pessoas, gente do governo, da prefeitura, sambadores da associação e o Roberto Mendes. A divulgação tinha sido pouca, umas postagens no facebook e só.
Basicamente, tava ali só quem estava envolvido com a organização do evento. Santo Amaro seguia, como sempre, alheia às formalidades.De repente, a pessoa que falava ao microfone se cala e fica atônita. Todos nós viramos o olhar para trás ao mesmo tempo. Eu esperava qualquer coisa pra justificar o espanto, a parede desabando, uma briga, alguém armado. Eis que surge, de surpresa, na imponência dos seus já 90 e tantos anos e vestido – como sempre! – impecavelmente, seu Nelson Sargento, baluarte do samba da Mangueira, grande compositor – um dos maiores! – e multiartista. Como se nada, ele entra no salão e começa a assistir o seminário.Como o seu Nelson tinha ido parar sem aviso numa cidade no interior da Bahia numa terça pela tarde num seminário com pouco mais de uma dúzia de gatos pingados? Esses mistérios que só sambador entende. O fato é que ele soube por um amigo do amigo do amigo do amigo que tinha aquele seminário, estava de visita a Salvador e pediu uma carona a outro amigo até ali. E, pronto, apareceu com a maior naturalidade, dizendo que queria conhecer a terra de alguns sambistas antigos que conheceu na juventude e que falavam tão bem do Recôncavo Baiano. Meu amigo Roberto Mendes, como de praxe, engatou logo no choro. Eu fui junto e quando eu vi, tava todo mundo limpando as lágrimas e seu Nelson já com o microfone na mão contando histórias da sua juventude e dos velhos sambistas do morro que falavam tanto da Santo Amaro que haviam deixado para trás ao migrar para o Rio de Janeiro ou falando da Bahia que as suas mães e avós – as velhas tias – contavam. E assim foi tecendo a história marginal de um Brasil – dentre tantos! – tão potente, filho, como diz o próprio Roberto, de duas baías – a de Todos os Santos e a da Guanabara.Do mesmo modo que chegou, foi embora natural e avassaladoramente, como a entidade que era. E hoje entidade segue a ser, em outro plano. Salve, Mestre Nelson Sargento. Obrigado por tanto!”
O Vasco da Gama, também se manifestou nas Redes Sociais e prepara uma grande homenagem ao mestre:
“É com profunda tristeza que recebemos a notícia do falecimento de um dos grandes nomes da história do samba e um grande amigo do Vasco, Nelson Sargento. Desejamos muita força aos amigos, familiares e fãs neste momento de profunda dor. E publicou vídeo do artista cantando Casaca, Casaca em homenagem ao seu time de coração.”
Em 2015, Nelson Sargento esteve em Brasília, para realização de shows na Caixa Cultural, em homenagem aos seus 90 anos. Na ocasião, nosso grande mestre foi acompanhado pelo Grupo Galo Preto e Pedro Miranda http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2015/06/sambista-nelson-sargento-celebra-90-anos-com-serie-de-shows-em-brasilia.html
Em homenagem a Nelson Sargento, fizemos uma playlist em nosso canal. Acesse em:
https://www.youtube.com/playlist?list=PL9uZ5lx7vymbsMghHshWWFNvY4C-66VZX
*créditos das fotos Acervo pessoal Moacyr Oliveira Filho e Roberto Seabra/ Divulgação/ @leoqueirozfoto /Renee Rocha Agência O GLOBO