Bloco Porão do DOPS faz apologia à tortura no carnaval em São Paulo

A instauração do Golpe de 2016 somado à “liberdade de expressão” nas redes sociais resultou no ressurgimento do fascismo com força total no Brasil, com direito a coreografia-verdeamarela e um bloco de Carnaval em homenagem aos torturadores da Ditadura Militar passada. Esse equívoco alegórico intitulado Bloco Porão do DOPS pretendia ganhar as ruas de São Paulo em 2018  no intuito de enaltecer o torturadores como o delegado Sérgio Fleury e o coronel Ustra (foto),  torturador condenado por diversas torturas, entre elas a da presidenta Dilma Rousseff.

Graças ao empenho de 25 entidades No início de fevereiro o Tribunal de Justiça concedeu liminar proibindo o Bloco Porão do DOPS de sair no Carnaval de São Paulo. A decisão foi tomada pelo desembargador relator José Rubens Queiroz Gomes da 7ª Câmara de Direito Privado. O texto expressa a proibição do uso de imagens e textos que façam apologia ao crime de tortura no carnaval – a maior festa do planeta e uma ode anual à alegria, a liberdade e ao amor.

O descumprimento da liminar custará 50 mil reais por dia aos organizadores do bloco, que recorreram da decisão junto a 39ª Vara Cível alegando que a liminar fere seu direito à Liberdade de Expressão. O caso ainda está em tramitação na 7ª Câmara de Direito Privado, mas o bloco já se posicionou acerca da decisão de não ter desfilado nas ruas de São Paulo no carnaval 2018, mas em local privado. “a gente reconhece que houve uma repressão, mas a gente não reconhece a ditadura. A gente culpa os grupos de guerrilha da época por terem praticado terrorismo”, afirma a cidadã de bem e coordenadora do bloco Porão do DOPS Stefanny Papaiano.

Analisando de uma forma sistêmica a questão – e após o susto dado à bizarrice do fato – o Carnavalesca.org buscou a opinião da família de alguns desaparecidos políticos. Quem nos recebeu foi o ativista social Mateus Guimarães, sobrinho de Honestino Guimarães – presidente da UNE sequestrado pela Ditadura Militar em 1973. Para Mateus “o Carnaval é a maior expressão de felicidade e liberdade de nosso povo. Não combina com tortura e sofrimento. Se essas pessoas tivessem ideia do terror que se passou nos porões e do sofrimento das famílias, como a minha por exemplo, certamente não fariam. Investir na educação, na preservação de nossa memória real, esse é um caminho no qual eu acredito.”

A decisão do desembargador foi pautada no pedido e 25 entidades como Tortura Nunca Mais, Movimento Nacional dos Direitos Humanos e a Comissão de Direitos Humanos da OAB, que protocolaram um documento solicitando o impedimento do desfile do bloco em questão. A essas entidades nosso agradecimento em nome do povo brasileiro que tem o carnaval como tesouro cultural inalienável.

 

…Seja nos muros da cidade

Ou nos zines da UnB

Honestino Guimarães

Lutou por dias melhores

Para mim e para você

E por essa ousadia

De lutar por igualdade

Tentaram prender

Seus sonhos

Mas os sonhos passam

Pelas grades…

(trecho do poema Honestino, de Marina Mara)

 

 

Fonte: carnavalesca.org