São João sacode o DF

Festa popular tradicional da Cultura brasileira, o São João se reinventa no DF, em plena pandemia

No mês de agosto, o Zeca Troncho, apelido dado ao caminhão-palco do Caravanas de São João 2021, atravessa 27 Regiões  Administrativas do Distrito Forró, levando o forro de raiz. A iniciativa é fruto de Termo de Fomento executado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) em parceria com a Associação dos Defensores das Culturas Regionais (ADCR).

No valor de R$ 640 mil, o projeto compreende 76 apresentações. A iniciativa gera 300 empregos para a classe artística e 50 para profissionais de apoio e de administração.

ZECA TRONCHO

Todos os participantes seguem protocolos de segurança contra Covid-19. Por ser itinerante, o projeto não gera aglomerações.


“A Caravana é uma ideia que nasceu em plena pandemia. Garante renda ao artista e cultura aos brasilienses. E, principalmente, contribui com a preservação da tradição do São João”, avalia a subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural (SDDC), Sol Montes.

PARANOÁ EM FESTA

“Todo artista tem de ir onde o povo está”, parafraseia o músico Nilson Freire em alusão ao clássico da MPB “Bailes da Vida”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. “É uma iniciativa importante porque ameniza tanto a situação financeira dos artistas, que estão sem trabalho desde o ano passado, por causa da pandemia, quanto a carência cultural das pessoas que agradecem por onde a gente passa, com brilho nos olhos, dançando e jogando beijos e abraços”, testemunha ele, escalado para tocar em Brazlândia, no dia 12 de agosto,

No último sábado, no Paranoá, a reação do público na passagem de a Caravana de São João confirmou a descrição de Freire. Enquanto Zeca Troncho deslizava preguiçosamente entre dois carros de apoio, primeiro com o Trio Forró Bjú, que tocou às 16h, depois substituído pelo Trio Farol da Barca (18h), as pessoas acenavam das janelas e pelo comércio da cidade. O caminhão-palco fez um circuito de cerca de seis quilômetros pela Avenida Comercial, quadras internas e Avenida Transversal, com cerca de uma hora e quinze minutos de duração.

No Paranoá, o presidente da ADCR, Arkson Rangel, estima que cerca de mil pessoas tenham tomado contato com a música conduzida por vocal, triângulo, zabumba e sanfona, formação tradicional do forró de raiz. Esses trios ganham cachê por apresentação que varia de R$ 3.6 a R$ 5 mil, dependendo do portfólio da banda.

O presidente da Associação dos Forrozeiros do DF (Asforró), Marques Célio, explica que o forró de raiz repete a tradicional formação de músicos criada por Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e Dominguinhos (1941-2013) e tende a se diferenciar do chamado “forró de plástico”, como Dominguinhos, às vezes, referia-se às versões mais comerciais do gênero.

Marques ensina ainda que cinco ritmos compõem o gênero: forro, xote, baião, xaxado e marchinha. “Ceilândia é o grande celeiro dessa música no DF. Dos 42 trios da Assforró, 26 são de lá, mas todas as Regiões Administrativas comparecem no arrasta-pé”, revela Célio, que acompanha os trios em cada apresentação da Caravana.

Marques Célio revela que os segmentos que vivem em torno dessa tradição aguardam para o ano que vem o registro do forró de raiz como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Não saiu ainda porque a pandemia atrapalhou”, afirma.

CACÁ SILVA
TRIO FORRÓ BIJU
JOSÉ ROBERTO



EMPREGO E RENDA

O músico Luizão do Forró, de Ceilândia, agradece aos organizadores da Caravana de São João e afirma que o projeto tem o apoio integral da classe artística “Não tenho nenhuma dúvida do tamanho da importância dessa proposta para todos”. Freire vai mais longe: “É um projeto que, independentemente da pandemia, deveria continuar. Em 20 anos de carreira, tocando em Brasília e em várias partes do país, nunca vi nada igual”, afiança.

Músico e produtor cultural há 34 anos, além de participante da diretoria da Associação dos Músicos e Artistas Populares do DF e Entorno (ASMAP), Cacá Silva destaca a participação das mulheres na arte do forró no DF. Cita as cantoras Carliane Alves, Eliane Di Paula, Maiza Lima, Anne Santos, Luana, Anna Doni e as bandas Menino Ricco e Collo de Mainha. “Este projeto tem uma importância extraordinária na manutenção do trabalho e renda de cantores, cantoras e trios”, destaca.

José Roberto Pereira De Oliveira, morador do Riacho Fundo 1, operador de áudio, ecoa os elogios ao projeto: “É muito importante para nós, tanto os da equipe técnica quanto para os artistas. A Caravana de São João traz trabalho e dignidade para todos nós e nossas famílias”.

Rubens Noronha, operador de iluminação, não se avexa em trocar a arte dos projetos cenográficos pelo álcool gel para higienizar microfones e instrumentos musicais em cima do caminhão. “Sou muito fã de São João. Em breve, a Caravana vai passar na minha cidade (Riacho Fundo I). Vamos esperá-la de braços abertos”.

FONTE: Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)